O filme com co-produção brasileira "Dangkou", dirigido pelo chinês Yu Lik-wai, foi exibido neste sábado (30) na seção de competição do Festival Internacional de Cinema de Veneza.
A história - uma produção conjunta de Brasil, China, Japão e Hong Kong - se passa na Liberdade, um bairro de São Paulo, e mostra o mundo da corrupção e do mercado negro da pirataria, controlado pelas máfias com a conivência de políticos.No entanto, a trama dificilmente seguirá na competição, pois, desde o primeiro momento, se mostra mais como um trabalho de videoarte do que de cinema.
Tais declarações foram dadas em entrevista coletiva pelo próprio diretor, quando explicou que "Dangkou" não pretende mostrar uma questão social de forma realista, mas através de "uma proposta informal".Lik-wai disse que o que mais deu trabalho foi encontrar "a forma".
Esta forma leva a uma decomposição da realidade de tal modo que o filme chega a se distanciar da trama para mostrar, em imagens artísticas, viagens alucinógenas e batalhas urbanas mais próprias da história em quadrinhos e do desenho do que do cinema.Já "Un giorno perfetto", o primeiro filme italiano exibido hoje na seção de competição do Festival, deu novos argumentos para as pessoas que disseram que este ano o evento seria marcado mais pelo nacionalismo do que pela qualidade.
O longa, do diretor italiano de origem turca Ferzan Ozpetek, conta a história de Antonio, interpretado por Valerio Mastandrea, e Emma, sua esposa, interpretada por Isabella Ferrari.Emma tenta se separar de Antonio, que não aceita a decisão da mulher e tenta evitar que isso ocorra de qualquer forma, até mesmo com o uso de violência física.
No entanto, surpreendentemente, o filme não aborda a questão como um problema social, mas sim trata como se fosse um simples fato.O diretor se afasta do problema social da violência de gênero ao colocar a trama no âmbito de um assassino psicopata.
"Gostar de uma pessoa da forma como acontece em 'Un giorno perfetto' é uma coisa que me fascina muito. Não se entende quem é a vítima e quem é o carrasco", afirmou Ozpetek.Durante o filme, esse "desejo" do qual Ozpetek fala leva Antonio a bater na mulher, persegui-la, tentar estuprá-la e matar os dois filhos do casal.
Ozpetek assegura que, ao final do filme, "o único carrasco é a vida", e que sua pretensão foi fazer o espectador "tentar compreender" as ações dos personagens."Nos jornais, lê-se sobre 'monstros' que matam e coisas horríveis que acontecem, mas o filme mostra o espírito destes 'monstros' que, no fundo, são pessoas como nós", diz.
O filme se baseia no romance de mesmo nome do escritor Sandro Petraglia, apesar de o diretor italiano ter reconhecido em entrevista coletiva que mudou vários aspectos do livro.Entre essas mudanças figuram a "suavização da violência", a substituição de um homossexual por uma mulher (o que Ozpetek garantiu se tratar mais de estética do que de moral), a inclusão de uma personagem que parece ser um anjo e a mudança dos lugares onde se passa o romance.
Graças a essas mudanças houve espectadores que disseram que "o livro é muito bom, mas o filme é muito ruim".Um sentimento que veio a confirmar as críticas sobre o viés nacionalista do evento, que este ano colocou quatro filmes italianos na competição, sem que a qualidade do cinema local atual justifique isso.
Algumas acusações, como as do jornal alemão "Der Spiegel", obrigaram o ministro da Cultura italiano, Sandro Bondi a falar sobre o assunto.Bondi disse que a presença de filmes italianos é grande porque durante anos a ausência dos mesmos "foi criticada".
A acusação de um "excessivo patriotismo" coincide com o momento em que, após a chegada de Silvio Berlusconi ao poder, o país está sob suspeita de ser xenófobo devido à campanha de expulsão de imigrantes.A pergunta que fica no ar com estes filmes é se os mesmos devem ser exibidos em um festival de cinema ou em um museu de arte contemporânea.
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